quarta-feira, junho 10, 2015

Nitromanite



Duas perspectivas do mesmo acontecimento têm efectivamente um infindável número de interpretações. Por isso sempre me fui obrigando a fazer o exercício inverso, o de momentaneamente vestir a outra pele, ver a situação daquele prisma.
Todos nós seguimos uma certa lógica na nossa interpretação dos factos e acontecimentos, e a mim apraz-me pessoalmente perceber qual foi a construção mental que esta ou aquela pessoa fez, que a levou ali.
E é um exercício  que me permite relacionar com pessoas completamente diferentes. Tentar negar à partida que a nossa carapaça conceptual e moralista própria interfira, permitir a abertura necessária para entender (concordando ou não) os comportamentos dos outros, nem sempre é um exercício fácil, mas é muito útil para melhor entender a humanidade.
E tenho de mim (embora consciente de ser uma visão algo parcial), uma imagem, modo geral compatível com uma pessoa tolerante.
Não sou de exigências. Não me vêem de lista na mão a dizer "porque eu fiz isto, isto e aquilo..." "quero que me faças X,Y e Z" (...) sempre advoguei que quero das pessoas apenas o que elas considerarem meu. Aqui incluo atenção, encontros, partilhas... tudo.
Mas toda a minha tolerância se esfuma quando me cobram em retorno. Quando reclamam não ter dito, ou feito, ou acontecido. E ironicamente tal tende a acontecer com as pessoas que menos legitimidade têm para o fazer (será algum ataque já com vista à defesa?? Who knows?)
...
Ontem foi um desses momentos, e mais uma vez a Miss R (sou eu para os mais distraídos), teve um momento daqueles em que as pessoas que me são mais próximas me dizem que parece baixar outra entidade sobre mim. E foi entrar em modo tolerância zero e liçãozinha de educação máxima.

Não são situações que goste, não gosto de situações limite. Mas cada vez mais me vou acostumando a ter de reagir em situações emergentes. Talvez seja ocupacional. Talvez reflicta um sinal dos tempos, em que as pessoas foram perdendo o hábito de discutir francamente esta ou aquela situação. Hoje não se diz "não gostei que tenhas feito isto (...) fiquei magoado com aquilo". Hoje tendencialmente enviam-se recados camuflados sob a forma de piada. Mas apesar da minha coloração capilar, não tenho a ingenuidade que talvez queiram pensar de mim... e sempre que me criarem uma situação deste género, virarei automaticamente Nitromanite.

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