terça-feira, dezembro 15, 2015

Volatilidade

Leve e transitório: como um "para sempre" o pode ser.

Nos trilhos dos dias aprendemos a ouvir para além do que é dito, a conhecer os "nãos" que são sim, os "nunca" que não contam e os "sempre" de prazo determinado.
E parecem raras as vezes em que a linguagem verbal se funde com a não verbal. Uma forte e ambígua luta interna parece acompanhar-me desde esse dia.
Depois de ter provado o travo amargo da perfeição das acções, construídas num rol de frases intocáveis e ocas, internamente prometi-me não mais ceder a esse brilho baço do "conto de fadas".

E não cedi.


Hoje tenho a convicção de ser rodeada de laços sinceros e sentimentos verdadeiros.
A paz mora nestas pequenas certezas.

É irónica a ambiguidade. Como a condição humana, de natureza insatisfeita, faz sempre procurar mais. Conheço-te como se calhar nem tu o sabes. E mesmo sabendo que nunca acontecerá, é uma teimosia inexplicável que me faz persistir nesta "luta".
O lamento que me invade por não o teres feito é algo que nunca conseguirei processar, ou transcrever em palavras. Talvez um dia. Não hoje.
Mas é um lamento apenas, nada ofusca o mais que se ergueu por debaixo dos nossos pés e nos elevou até aqui.

E apenas uma nota final para esta que é a última deste ano em aulas. E para além desta, apenas mais uma. A luta que bati, só eu a sei, partilhei parte com alguns, apoiei-me em poucos. Mas está aí à espreita.
E vai ser um ano de velocidade máxima.

E que seja doce*


sábado, outubro 24, 2015

Vai, não vai?



- E se não der certo... se por algum acaso tudo de repente se extinguir e ficarmos sem nada...?
....
Tenho medo!

- Vai correr tudo bem!

- Vai, não vai? Quer-se dizer... qual seria o sentido de outra opção?

-Não há sequer essa outra opção. Apenas a primeira, em que tudo corre bem.

-Não deveria ser preciso tanto... mas é nestes momentos de aparente encruzilhada...
...

-.... em que conseguimos encontrar o mais importante, em que nos encontramos a nós.
É verdade.
Mas não penses mais nisso, vai mesmo correr tudo bem

quinta-feira, outubro 22, 2015

Como comunicar más notícias

De repente os inúmeros momentos em que abordamos detalhadamente esta prática parecem insuficientes. Ironia do destino quis que eu pusesse em prática os parcos ensinamentos adquiridos para a ti informar esta que era a notícia que não queria dar, tampouco tu querias ouvir.

De repente apenas me recordava essa frase vezes, vezes sem fim: "não há a maneira certa... há maneiras erradas que têm de ser evitadas"

O pacto de verdade que nos une proibia outra que não fosse a manifestação da verdade. Mas como dói. Porque sei exactamente o que sentes. A revolta e desânimo que neste momento se apodera de ti... coragem minha pequena...
...
e
a máxima a que resumimos toda a nossa fé:
"vai tudo correr bem"
Mas vai, pequena. Vai MESMO. Acredito e espero que sim. E vamos estar lá, juntas no teu dia de "branco", no meu (se existir) dia de "branco".
Porque nestes anos de entradas e saídas no núcleo de amigos, de ilusões e desilusões... o que fica são as pessoas. As que de facto valem a pena. As que queremos em todos os momentos importantes das nossas vidas. E nós as duas temos tantos momentos para partilhar. Tantas dúvidas para debater. Tantos planos para traçar e garantir. Tantos segredos para trocar....
Não consigo sequer explicar como o dia de hoje foi difícil.
Mas no fundo, sei...
"vai tudo correr bem"

quarta-feira, setembro 23, 2015

Muda a paisagem


Temos sempre aquelas pessoas que crescem connosco. Aquele pequeno núcleo que nos acompanha ao longo do caminho. A sensação que fica é que muda a paisagem e que o resto permanece igual. Ingénua ilusão. Pensar que somos as mesmas pessoas que nesse longínquo 2006 é ignorar o tanto que vivemos, partilhamos e nos fez crescer.
Nove anos volvidos temos hoje laços muito mais fortes. Ligações directas à mente de cada uma. Conhecemos melhor que ninguém os defeitos de cada uma, e amamo-nos mutuamente, assim mesmo. Tenho em vós plena confiança.
Porque se for para caminhar, que continue a ser com esta companhia, e com os nossos respectivos companheiros.
Porque estou hoje muito mais feliz, completa e realizada.
E um "obrigada" me sai automaticamente do pensamento, e concretiza-se vocal e graficamente, neste meu espaço.
*

sexta-feira, setembro 04, 2015

Memórias de um Verão ido



Lembraste do calor a beijar a pele, desse sol alentejano? Trouxe um pouco dele comigo. Deixei um pouco de mim lá, em troca, como paga.
Recordas o canto das ondas? Continua a ecoar um pouco dele.
E as estrelas? Que choviam do céu claro, como poucas vezes o vi, na minha retina ficou impregnado esse clarão sob o fundo negro.
São pequenas coisas, porque sempre fui, como dizes, de valorizar detalhes.
Quando vamos voltar?

sexta-feira, agosto 21, 2015

It was the hardest part

"And the hardest part 
Was letting go, not taking part 
Was the hardest part"

Assim cantaram os Coldplay, numa das muitas músicas que consegue de imediato transportar-me para um período temporal bem específico.
Foi bom reencontrar esta melodia, no acaso do típico scan da rádio numa viagem de final de dia, aparentemente, sem nada de especial que o pudesse denunciar. 
Foi igualmente interessante sentir como a mesma música tem hoje uma interpretação diferente, como os significados e atribuições vão mudando com o nosso trajecto e vivências.
A parte mais difícil é de facto decidir quando basta. Reside na capacidade de ter a clarividência da percepção que aquele é o ponto de não retorno.
Não tenho ainda a experiência que me permitirá certamente lidar com este processo de forma menos desgastante, não obstante, por hora, esta é das experiências mais exigentes e difíceis de levar a cabo. Quase se trata de um processo de luto, mas com a agravante de ser um luto de um vivo. Estranho? Mas é assim mesmo que o sinto... há pessoas, com as quais o grau de ruptura é tal que simplesmente parece que deixaram de existir. Permanecem apenas no nosso imaginário e nas nossas memórias.... mesmo que o seu plano físico subsista.
E acredito que seja a forma melhor de ver as coisas, não é que as pretenda "matar" no plano literal. Consola-me a ideia de as suas vidas prosseguirem e espero que da melhor forma possível (embora não faça questão de o acompanhar), apenas se trata de uma simplificação de relações que por muitos e variados motivos foram-se desprendendo das vidas umas das outras e acabaram por se tornar independentes. Pessoalmente, dei por mim a conseguir aceitar mais a ideia de conservar essas pessoas com o seu banco de memórias, que recruto sempre que necessário, anulando desta forma a componente dolorosa que tendemos a conceder ao afastamento e saudade.
O tempo tem sido um excelente orientador. E após assentar a poeira, é-nos permitida uma visão muito mais limpa da realidade.
Já lá vão 9 anos de experiências egocêntricas por aqui.
E é tão bom sentir esta paz no contacto com o exterior
:)

quarta-feira, junho 10, 2015

Nitromanite



Duas perspectivas do mesmo acontecimento têm efectivamente um infindável número de interpretações. Por isso sempre me fui obrigando a fazer o exercício inverso, o de momentaneamente vestir a outra pele, ver a situação daquele prisma.
Todos nós seguimos uma certa lógica na nossa interpretação dos factos e acontecimentos, e a mim apraz-me pessoalmente perceber qual foi a construção mental que esta ou aquela pessoa fez, que a levou ali.
E é um exercício  que me permite relacionar com pessoas completamente diferentes. Tentar negar à partida que a nossa carapaça conceptual e moralista própria interfira, permitir a abertura necessária para entender (concordando ou não) os comportamentos dos outros, nem sempre é um exercício fácil, mas é muito útil para melhor entender a humanidade.
E tenho de mim (embora consciente de ser uma visão algo parcial), uma imagem, modo geral compatível com uma pessoa tolerante.
Não sou de exigências. Não me vêem de lista na mão a dizer "porque eu fiz isto, isto e aquilo..." "quero que me faças X,Y e Z" (...) sempre advoguei que quero das pessoas apenas o que elas considerarem meu. Aqui incluo atenção, encontros, partilhas... tudo.
Mas toda a minha tolerância se esfuma quando me cobram em retorno. Quando reclamam não ter dito, ou feito, ou acontecido. E ironicamente tal tende a acontecer com as pessoas que menos legitimidade têm para o fazer (será algum ataque já com vista à defesa?? Who knows?)
...
Ontem foi um desses momentos, e mais uma vez a Miss R (sou eu para os mais distraídos), teve um momento daqueles em que as pessoas que me são mais próximas me dizem que parece baixar outra entidade sobre mim. E foi entrar em modo tolerância zero e liçãozinha de educação máxima.

Não são situações que goste, não gosto de situações limite. Mas cada vez mais me vou acostumando a ter de reagir em situações emergentes. Talvez seja ocupacional. Talvez reflicta um sinal dos tempos, em que as pessoas foram perdendo o hábito de discutir francamente esta ou aquela situação. Hoje não se diz "não gostei que tenhas feito isto (...) fiquei magoado com aquilo". Hoje tendencialmente enviam-se recados camuflados sob a forma de piada. Mas apesar da minha coloração capilar, não tenho a ingenuidade que talvez queiram pensar de mim... e sempre que me criarem uma situação deste género, virarei automaticamente Nitromanite.

segunda-feira, abril 06, 2015

V-04.15

Abril.
Chegou com uma paz feliz.
Família, sol e tempo.
Pausas deviam sempre ser nestas condições.
Como sabem bem.
Não deixa de custar saber que em breve tudo recomeça. Mas faz parte. Sei o que me espera. E é bom saber que já falta pouco.
Tem sido uma longa caminhada... mas o facto de não a fazer sozinha traz outro alento.
Em breve haverá outra pausa lectiva, será no entanto mais trabalhosa, mais voltada para os exames.
Mas estarei novamente em casa.

domingo, março 01, 2015

Nova foto para partilhar



Foi desta forma que recebi uma notificação, qual ordem, do tio Google. Parece que agora não posso guardar foto nenhuma, sem que o tio assuma que seja coisa importante o suficiente para partilhar com o mundo.
Mania que manda.
Mas até foi uma sensação feliz olhar novamente para ela. Guardei-a por graça. Nem reflecti muito quando o fiz. Apenas aquele pensamento de fundo: "olha que esta imagem ainda vai dar jeito".
Não mais pensei no caso.
Hoje quando a revi, senti aquele conforto típico de quando vemos algo que significa uma batalha ganha. Em parte foi isso. Os primeiros anos de Medicina foram marcados diária e constantemente por esse pequeno monstrinho que é a Anatomia. É quase uma luta de nomes contra um cérebro. Cérebro este que é preguiçoso e tende a mandar embora tanta informação. Mal do processo é que mais tarde esta informação que o cérebro gentilmente dispensou, nos volta  a ser precisa,  e faz-nos perder mais não sei quantas horas de vida em torno do mesmo: nomes!
Mas já passou.
A grande vantagem do 4º ano é que a luta é em parte a mesma, os nomes são diferentes. Hoje luta um cérebro para tentar sorver e manter (!!!!) as abordagens terapêuticas e cirúrgicas deste ou de outro estado mórbido, ou então as classificações segundo aquele autor, aquela convenção, as diferenças entre a versão anterior... é uma luta. Mas é uma luta tão boa. O levantar da cadeira no fim daquela introdução teórica e ir recolher junto do nosso doente toda a informação. Muitas são as vezes em que procuro forma de explicar, sem sucesso, a sensação que invade. Por muitos sacrifícios, por muito que tenha custado, e custe ainda, esta aventura, eu sei que sim. Vale a pena.
É por aquilo!
A quase magia de ir ouvindo, validando, e orientando. Esclarecendo este ou aquele cenário. A possibilidade de contactar com as diversas formas de humanidade, de ser e estar na vida, o aprender com todas elas.
Sou sem dúvida feliz em Medicina. Porque me dá muito mais do que algum dia fui capaz, ainda que consciente da decisão, imaginar. E por isso luto, seja sexta, sábado, ou domingo... não há folgas, feriados, há uma luta a levar a cabo. Luta que se trava com folhas, canetas, post its e livros. Uma luta que me ajudará um dia a ser capaz de fazer a diferença no maior número de vidas que possa tocar.
E por isso, depois deste pequeno desabafo: voltemos, a lutar!

quinta-feira, fevereiro 05, 2015

7/12




Queria que este fosse o primeiro post do ano.
Um post feliz.
Quase dois meses após a minha última passagem por cá, posso agora dizer que está feito.

7/12

E cada vez falta menos.
Ainda não foi desta que me desviei do caminho. Estou em pleno trilho. A toda a velocidade.


2015
É o nono, quase uma década de resgistos que aqui foram ficando e que facilmente posso recuperar para lembrar o curso dos acontecimentos. Obrigada pequeno espaço, pela possibilidade de depuração sem prejuízo, sem julgamentos, sem freios decorrentes do medo da retaliação.

Ego!