quarta-feira, março 29, 2017

Tanto de nada


Com uma mão cheia de nada. Foi assim que sai hoje.
O que faltava em soluções, sobrava em vozes que gritavam dúvidas aos meus ouvidos.
A sensação de encruzilhada. De falta de perspectiva. A lenta e sofrida perda de esperança.
Não conhecemos as lutas de quem nos rodeia. Não podemos ser julgados por isso. Podemos no entanto estar atentos aos pequenos pedidos de auxílio.
Nem todos dramatizamos. Nem todos iremos expressar as nossas dores e dificuldades do mesmo modo. Mas nunca devemos desvalorizar.
Hoje foi comigo. Mas que possa ser convertido numa lição. Em algo benéfico para o futuro. Que nunca me seja permitido esquecer como fere a sensação de descredibilização. Se foi grave o suficiente para levar a uma manifestação verbal... então deve ser encarado como grave o suficiente para carecer de uma consideração.
O doente muitas vezes mais não precisa do que a (embora fictícia, por vezes...) sensação de ser compreendido. 

terça-feira, março 28, 2017

Interna



Em pleno desenrolar dos acontecimentos é difícil ter a clareza de espírito necessária para que nos possamos pronunciar devidamente.
Esperava que fosse desafiante. Não defraudou. No entanto as expectativas eram relativas a uma realidade algo diferente.
A cada dia se vai somando um novo desafio. Mais algumas dificuldades. Muitas lições. Não podia no entanto ser maior a clarividência do tanto que ainda não sei, da imensidão de coisas que há para aprender.
Foi por este desafio contínuo que batalhei largos anos.
Muitas são as minhas limitações. E de mais limitações, vou ganhando consciência a cada dia.
No entanto, como a minha grande mentora me disse outrora "os meus únicos juízes são os meus alunos (ainda não me posso pronunciar muito neste âmbito...) e os meus doentes". Tento ter esta máxima presente comigo, mais ainda, tento que ela não me abandone quando sinto o peso de atitudes menos justas ou simpáticas, de pessoas que há muito se esqueceram da força que as palavras erradas em momentos determinados podem ter de forma irreversível na vida de outrem.
Nunca sabemos as lutas que quem nos rodeia atravessam. Se isto é válido para os doentes, internados, a quem tentamos dedicar o nosso melhor, é-o igualmente para o nosso par.
Espero nunca deixar que a insensibilidade tome conta de mim. Porque isso seria perder por completo a lógica do que me levou a iniciar esta viagem.
E mais uma vez me deito com a esperança que amanhã seja um dia ainda melhor. Especialmente amanhã, em que mais uma vez irei oscilar entre as posições opostas, de médica a doente em menos de nada. E que surjam algumas resoluções.