terça-feira, agosto 29, 2006

Baloiço





Com altos e baixos, apoiada nas correntes seguras que são os objectivos traçados e suportada pelas individualidades que me ensinam a oscilar…assim vou aprendendo, assim vou crescendo, assim me vou torneando à realidade e fazendo pessoa…
E tudo se passa como uma criança sobre um baloiço de corda, que impaciente tenta subir cada vez mais, olhando para a sua própria sombra, e querendo ser maior… vendo com agrado que ela vai diminuindo com o passar das horas… mas tendo a criança como único objectivo ser maior que essa sombra, rapidamente sentirá a tristeza de não poder subir mais, a frustração e o medo de ver diante de si, devido aos movimentos solares, a sombra, crescer impetuosa, parecendo querer engoli-la. Cedo a criança chorará e sucumbirá à sombra!
Por isso, nos altos e baixos que tem a vida , apoiada nas correntes de objectivos definidos e suportada por gentes minhas eu vou aprendendo, eu vou crescendo, eu me vou torneando e tornando pessoa… mas nunca com a vontade de superar ninguém, para além de mim todos os dias!





Verdes Folhas





Olho as verdes e frescas folhas das árvores a bailar ao vento, em ritmos variados, ouço-as num leve sussurro… fecho os olhos e sinto-me abandonar o orgânico, sinto-me a flutuar em correntes de ar, por caminhos que pareciam esperar esta minha nova forma.
Saio pela janela, evado-me de casa, toco as verdes folhas frescas das árvores e faço-as bailar…faço-as cantar a canção dos murmúrios… daqui de fora, abro os olhos, vejo o sofá onde momentos antes me sentava… estou ali, ou pelo menos ali estou eu como me conhecia, com todo o pesado fardo que é esse corpo..aqui fora sinto-me leve, sinto-me livre! Aqui fora esvoaço a meu bel-prazer de encontro com as outras almas efémeras, aqui fora eu vejo os outros como eles são, sem me enganar pelo pesado fardo que é aparência!

sábado, agosto 26, 2006

Sol, calor, azul e mar...




Sol, calor, azul e mar... todos se vão lentamente despedindo, todos me vão recordando a eminência de um final cada vez próximo, vão-me lembrando da urgência de centrar as energias restabelecidas em objectivos bem definidos, fazem-me focar atenções num mundo diferente, real, o qual abandonei por alguns meses para viver num paralelismo fantástico.
Vejo já no limiar do meu horizonte, a caminhar a passos largos a infalibilidade de um ano com demandas únicas, com outros desafios, medos… mas sempre, com a certeza de ter a amparar as quedas do curso tortuoso que é o desconhecido o mais puro dos sentimentos.
Nunca o desconhecido me pareceu tão seguro, porque sei que qualquer que seja o seu semblante, não me irá fazer abalar… terei sempre a solidez da amizade… e quando as forças começarem a falhar, quando a segurança estremecer… lembrar-vos-ei: Sol, calor, azul e mar e a tempestuosa incerteza deixará brilhar novamente o cintilante e anil céu da felicidade!

sexta-feira, agosto 25, 2006

Vulto




E a felicidade entra na nossa vida como o vento entra por uma porta mal fechada: primeiro arrasta levemente a porta, aumentando a frincha de luz, depois num movimento cada vez mais acelerado ele abre-a totalmente, trazendo de volta uma quente e alba luminosidade, que varre todo o escuro que ali, há instantes dominava.
A felicidade estava ali diante, via-a bambolear, afastando-se. Mas a felicidade trazia um nome, eu sabia-o...e chamei-o!
E o vulto: esfumou-se, tornou-se vento, o vento mudou, tomou outro rumo, desta vez no meu caminho... e encontrou-me, afagou-me os cabelos, beijou-me a cara. Espreitou por entre a estreita frincha que possuia à espera de ser aberta para essa claridade… abriu-a, e a luz entrou, invadiu os meus olhos, cegou-me por instantes…
Quando voltei a enxergar: o vento mudou, virou um vulto alto e esguio, de face morena e olhos escuros.
Soube o teu nome, ainda hoje o sei...mas não mais tive de o pronunciar... porque tu sob a forma de vulto estás comigo desde então, intermitentemente...também como o vento tu vais... mas sempre voltas...


sábado, agosto 19, 2006

Vou mostrar-te onde moro!




Vamos brincar... A quê? ...vamos fazer um jogo, vais fazer de conta! Vais fingir que és outra pessoa, que estás sozinho numa grande sala escura e vazia, que falas, mas nada ouves como resposta para além do ensurdecedor eco que faz vibrar as paredes e estremecer o chão, sacudindo o teu corpo.
Vais fingir que sentes frio, muito frio a entranhar-se em ti, a invadir-te o corpo e a fazer sucumbir gradualmente as tuas funções vitais. Vais fazer de conta que te sentes sozinho e pequeno....

Então? Gostaste?
...nem eu gosto! Tira-me de lá!

Bolha




Um "Olá!" precedido de um sorriso, seguido por uma conversa banal e um "adeus" ou "até logo". São pessoas que cruzam, que entram e saem da minha esfera, são outras vidas que ao esbarrarem por breves momentos com a minha, me olham sem me verem, me escutam sem me ouvirem e me falam sem me tocarem o coração.
É uma barreira, forte, densa, pesada, é um entrave que me prende numa masmorra invisível, que me torna vulnerável à dor e inacessível à compreensão dos outros.
Sinto que toda a minha vida estive dentro duma bolha e que por isso quem me olha de fora não me vê como sou, não me ouve a voz, nem me toca directamente.

Porquê, como, quando começou?
Não perguntes... não sei! Mas adoraria ser vista e compreendida, por uma vez que fosse!

quarta-feira, agosto 16, 2006

Aqua




E por magia precipitas... o mais precioso composto existente neste peculiar planeta cai sobre a forma de líquido. Purifica o ar, refresca o chão, renova o ciclo da água, o ciclo da vida... demasiado implicas quando cais!
Chuva! Actriz dos mais belos teatros da natureza, a tua actuação é brilhante, trazes um espectáculo aos diversos sentidos... se a tua visão é única, o som das tuas carícias nas folhas das árvores e nas telhas das casas constitui das melodias mais inspiradoras, e o cheiro a terra molhada no ar enche os pulmões despertando o corpo, acordando em nós uma força que por vezes esquecemos ter...
Chove! Não pares de chover, não hoje. Preenche todos os recônditos espaços entre as partículas de areia, lava o chão, lava o ar, lava os meus olhos com esse teu rito!

segunda-feira, agosto 14, 2006

Casa Velha



Todos temos recordações de infância, pode ser um cheiro, uma cara, uma paisagem! São memórias nítidas no interior de cada um, guardadas com preciosismo, um verdadeiro tesouro!
Passam anos, décadas, passa a vida, e quando todas as outras memórias teimam em não ser recordadas, claramente sentimos o tal cheiro, tacteamos a tal cara, vemos a tal paisagem!
Porque surgiu esta história? Nem sei bem explicar...Pode começar com: "Estava então eu a arrumar o armário das minhas recordações quando olhei lá no cimo, o cofrezinho onde religiosamente guardo esta parte mágica do meu tão breve percurso...que são as recordações dos meus mais remotos tempos..." Mas não o farei deste modo, a minha velha casa não o merece!
Pois sim, trata-se duma casa, uma casa que via quase diariamente. Por onde enquanto criança ia ter, arrastada por uma brincadeira, ou apenas pela tentação de conhecer mais de um mundo em construção. Perto dela, numa figueira que tão bem conheço, cujos ramos suportaram o meu peso tantos anos, moldando-se ao meu corpo em crescimento, eu parava descansando do frenesim que é crescer... aí perdia o olhar em ti! Velha Casa…posso ver cada pedra tua, posso ver as janelas, as escadas...posso ver, mas de olhos fechados... Esta história surge precisamente porque hoje de olhos abertos vi a casa velha....vi! Mas sem tecto, vi! Mas sem parte das pedras que a erguiam...
É por isso que esta história surge....pela necessidade de acreditar na imagem que tenho de ti nos tempos de criança... pelo sentimento de perda e nostalgia que me assolou...


Para ti, Casa Velha, a partir de hoje, olharei sempre de olhos fechados!

sábado, agosto 12, 2006

O Mundo na Mão!


Tudo move, tudo altera, e num sopro de ventura somos elevados para os píncaros da nossa auto-estima… com a ascensão elevam-se os níveis de arrogância, desprezam-se as demais opiniões, subitamente "EU" parece a única entidade existente no planeta...Planeta esse que é subitamente pequeno para a minha grandeza! É de tal modo pequeno, que sem qualquer problema o agarro e fecho na palma da mão!

Mas... tudo move, tudo altera, numa mudança súbita dos ventos da fortuna somos projectados, demovidos caímos do imenso alto ilusório que nos sustinha e desabamos. Uma por uma, sentimos as pedras dos píncaros que nos erguiam. E descemos... descemos até o embate contra os ângulos das rochas deixarem de se fazer sentir no corpo dormente. Descemos... muito tempo? Pouco? ...pareceu uma eternidade!
Redimensionamo-nos, vemo-nos novamente como míseras criaturas sem qualquer virtude, despojadas de valor... abrimos a mão! Aquela onde guardavamos o mundo lá no cimo dos píncaros, mas aqui, no ermo vale dos desalentos não vemos. Na palma da mão não está ali Mundo algum... apenas um nítido emaranhado de ilusões, que agora, desprovidos de confiança julgamos ver!

Culpamo-nos! Martirizamo-nos com as ilusões criadas, resolvemos nunca mais cometer esse erro, juramos não mais sonhar! Jamais acreditar em ilusões!

Mas no nosso interior... ansiamos pelos ventos da fortuna.... ansiamos elevar-nos e sentir-nos uma última vez... Únicos e Fortes!

...Porque tudo move, tudo altera! e o ser humano não foi criado para o equilíbrio... todos alternaremos eternamente entre os píncaros da auto-estima e o ermo vale dos desalentos!

domingo, agosto 06, 2006

Nos trilhos do sol




Vim trilhando caminhos já abertos, com segurança, usando pegadas já marcadas... assim vim seguindo, num sentido comum a ancestrais. Por instinto? Por cobardia? O que me fez mover numa via que não sei onde dá? Que não sei se é a melhor, a mais verdadeira...
...pura comodidade!
Custa! Custa desligar, abrir mão da facilidade de decorar falácias erguê-las num altar e adorá-las como absolutas!!

E o conforto do trilho fácil e da reprodução adormece o desejo do conhecimento!

Espero ter um dia a capacidade de nascer, no seu mais fiel sentido, orientar-me não por ditas "verdades", seguras pegadas dos ancestrais, mas pela razão, meio privilegiado do "gnosis" único trilho seguro....seguir-te-ei então...o "meu" caminho, o Trilho do Sol !

quinta-feira, agosto 03, 2006

"Tchocolatl"



Como te adoro! Com todo esse doce moreno que traz dos maiores prazeres, que misteriosamente é amado e odiado principalmente pelas mulheres... Enigma por tantos estudado, qual é o teu poder? Qual a magia com que nos prendes..?

Desde os remotos povos astecas que és sorvido, pensando que conferias imunidade sobre muitos males….passaste de remédio a culto, mudaste de continente, de consumidores e tornaste-te símbolo de luxo, quem a ti acedia era das mais altas classes de então, século XVI…
Com o Marquês de Sade e Casanova te deste a conhecer como o “elixir do amor”…

Mil facetas tiveste, hoje és mais plebeu, tornas os dias das mais variadas pessoas mais saborosos, vens embrulhado, em caixinhas, em dias de festa, de gula, como suplemento energético de tropas e astronautas, ou simplesmente como sinal de apreço!
Da minha parca cultura religiosa és sem duvida o Santo Mor, quasi Deus e é a ti que eu recorro sempre que o espírito (e o corpo) reclamam….. S. “Tchocolatl” como inicialmente eras conhecido, a ti agradeço os mais incríveis milagres do paladar!