domingo, janeiro 26, 2014

Bubble




São pequenas coisas que às vezes nos fazem sentir expostos ou vulneráveis.
Basta alguém olhar e ver as nossas fragilidades. No frenesim de um mundo tão impessoal sentir que alguém nos vê com todas as intrínsecas fragilidades é algo inesperadamente assustador. Um lugar desconhecido. Que nos traz um frio na barriga, típico do pisar terreno novo.
Hoje senti-me assim, tu tens esse dom. Nos teus silêncios e aparente distracção vais vendo e acedendo ao mais íntimo dos detalhes.
És tu.

quinta-feira, janeiro 23, 2014

Desconstrução - No dia em que desaprendi a Anatomia Patológica

Todos conhecemos alguém que desempenha funções para as quais não é a pessoa mais indicada.
É uma constante no atendimento nos serviços públicos, nos cafés e restaurantes. E é sempre uma situação que lamentamos duplamente. Se por um lado estamos a ser mal servidos/atendidos, por outro certamente existirá no mundo alguém mais motivado e indicada para aquela mesma função, que faria com que tudo fluísse mais natural e harmoniosamente.
Não é o meu primeiro exemplo para esta situação. Mas é sem dúvida alguma o exemplo mais doentio e revoltante com que tive o desprazer de me cruzar.
Todas as profissões acarretam uma responsabilidade intrínseca. Adaptada às funções que se desempenham, mas a responsabilidade está sempre aliada a um bom desempenho. Mas depois há aquelas profissões que requerem dose extra. Não só de responsabilidade, mas de autoconsciência. Há simplesmente funções que marcam demasiado a vida dos outros para que os responsáveis se possam dar ao luxo de fazer as coisas às três pancadas. São inúmeros os exemplos de profissões que se enquadram nesta descrição. Hoje tenho mesmo de abordar um em concreto.
O de uma senhora que pensa que a docência é um trono do qual pode ditar as regras que quer, leccionar o que bem entende, sem qualquer ordem, objectivo, rigor ou correcção. É triste, é profundamente triste como ao fim de 19 anos como estudante (esta é a minha 19ª matrícula), vejo alguém deitar por terra todo a imagem que tinha do papel de um docente.
Esta aventura já começou há algum tempo, desde a recusa da equivalência com base no capricho de "não dou equivalências a ninguém", alegando oficialmente uma "formação demasiado específica", mas sem com isto justificar qual(ais) os conteúdos programáticos em falta.
Com as primeiras aulas veio a dualidade de critérios. Se um licenciado em Anatomia Patológica não tem competências para ter equivalência à unidade curricular :"Anatomia Patológica", já um aluno do 4º ano de Medicina, cuja experiência para além da (nenhuma) formação dada pela própria no ano anterior é apresentado como o assistente das aulas práticas, com capacidade inclusive, espantem-se, de avaliar trabalhos práticos e corrigir exames.
E nas aulas dão-se conceitos que vão contra tudo o que é descrito pelos livros de referência ou artigos científicos. Os mesmo conceitos são avaliados na frequência teórica, ficando para sempre a duvida acerca do que estará certo.
A Anatomia Patológica em Coimbra perde todo o seu sentido de área médica com vista ao estudo das alterações morfológicas que estão  na base das doenças e ganha uma dimensão mística. Ninguém sabe os critérios, ninguém sabe o que está bem, o que está mal. Aparentemente o próprio livro referência é posto em causa.
Tudo atinge um novo nível quando se equaciona alterar e manipular as notas da componente prática de modo a dar a nota máxima a quem tiver em risco de reprovar, justificando: 

"Não posso chumbar alunos que não tenho capacidade de ter mais alunos nas turmas práticas, por isso vou dar a nota máxima à prática e quem chumbar e vier a recurso faz oral e vou fazer perguntas até responder alguma coisa certa e der para passar".

Isto bloqueia-me qualquer capacidade de comentar, sinto-me presa, sem voz, sem capacidade de qualquer tipo de acção. É tudo demasiado mau para ser verdade, é tudo demasiado triste e revoltante. Saber que se brinca aos professores com algo tão nobre, que se atiram tópicos a alunos como ossos a cães.
Triste, ver que 300 alunos de medicina/ano ficam com esta ideia da Anatomia Patológica.
Triste ver como 300 alminhas não se sabem juntar e reivindicar o direito a um ensino de qualidade.
Triste por ter me sentir a embrutecer de dia para dia. Triste por deixar que isto mexa internamente e comece a condicionar uma dúvida em matérias que já foram naturais e inquestionáveis.

Triste. Por ter tido o azar de entrar naquela faculdade, por ter de viver Coimbra, e todos os seus doentios vícios de província com manias de terra de "doutores" que competem para o título de pessoas com menos escrúpulos e princípios que alguma vez conheci.
Triste por nem a meio desta tortura estar e não ter já qualquer força para continuar.
Triste!

domingo, janeiro 12, 2014

Se a felicidade fosse uma fotografia



Hoje é apenas isto. Porque há imagens que dispensam qualquer descrição.

domingo, janeiro 05, 2014

Turbulência

Sei qual o destino. Não o definitivo, mas o imediato. Sei-o.
No entanto a turbulência desta viagem tem sido uma constante. Atrasa. Mói. Desconcentra. Cansa.
Gostava da serenidade necessária aos dias que se avizinham. Gostava da motivação que me parece ter abandonado no final do último ano lectivo e que não mais me quis brindar com a sua presença, apesar do meu esforço em encontra-la.
E no cimo de tudo isto há a constante solidão de um trajecto que se trilha sozinho e que apesar de ser o único que vislumbramos no momento, é igualmente aquele que nos aparta dos afectos.
Se não morreres da doença, morres da cura.
Aqui o que se levanta é a adaptação: Se não morreres sem a viagem, morres no trajecto.

quinta-feira, janeiro 02, 2014

2014

O ano novo associa-se frequentemente à reformulação de objectivos,  desejos e metas que no momento nos parecem importantes.
Aprendi a ser cautelosa com os pedidos, neste e nos outros dias. De facto, tenho para mim que se nos fossem concedidos os pedidos que formulamos, nem por isso iríamos dar por nós mais felizes.
Em boa verdade, quem efectivamente pede saúde nestas noites? Talvez aqueles que se vêm privados momentaneamente dela, mas não são a maioria certamente. O ponto a que queria chegar é que o de mais precioso e vital, o que devia constar obrigatoriamente na lista dos pedidos, é encarado como garantido. Ou seja, raras são as vezes em que pedimos o essencial à nossa felicidade.
Mas esta será sempre a altura do ano dos balanços,  da análise retrospectiva dos dias que separaram a última passagem.  Isso agrada-me particularmente,  acho saudável e benéfico.  Olhar para trás,  ver onde ganhámos,  onde perdemos,  o que fizemos de bom e de mau.
Essencialmente trabalhar (e não pedir) para que o novo ano seja ainda melhor.
Feliz 2014!