domingo, maio 23, 2010

Sei que mentes

Sei que mentes.
Cada vez que repetes, com uma segurança assustadora, essa redonda mentira é um pouco de mim que perdes com ela.
Nunca percebi porque o fazes. Nunca percebi. Por hora dá-me a sensação de que o fazes com um mal mais profundo. Que o fazes para te convencer de que é verdade. Se eu não sei, se me dizes o contrário, tem tudo para ser verdade.
Mas não é. A verdade é daquelas poucas coisas intocáveis. Não há intermédios, nem questões de ponto de vista: ou é verdade, ou é mentira. Simples.
E sei que mentes.
A mim, a ti, a outro(a)s!
E isso levanta a maior das questões existências com que me debati. Maior que qualquer uma das que me perseguiu nos longos conflitos mentais da adolescência. Isso faz-me pensar até que ponto cada afirmação por ti dita ao longo destes anos seria verdadeira. Faz-me por em causa tudo.
Não só a veracidade do dito, mas também a verdade do vivido, e a certeza nas pessoas.
Isto leva-me à maior perturbação de sempre. Ao maior conflito de sempre:

Trust, reliance on another person or entity. Having faith in others and believing them.

Confiança. Fé. Acho que toda esta história abalou seriamente a minha, não só em ti. Mas nas pessoas, nas relações humanas. Hoje, parece-me pura utopia pensar nas relações transparentes e honestas, que outrora tive como gold standard.
Gostava de conseguir reverter o processo. Mas o mais angustiante é ver que é independente da vontade, e por mais que queira não consigo, como eu Deus, acreditar nesta fé, na dos homens.
Sinto-me estranhamente amputada, diminuida dessa capacidade essencial à vida, ou pelo menos à minha concepção dela.

Sei que mentes.
Nunca perceberei porquê!

6 comentários:

Balhau disse...

A reflexão é de uma analiticidade e lucidez tremendas. Os meus parabéns. Gostei muito do texto. Falando na propria pessoa ou encarnando o espírito de uma possível personagem, a verdade é realmente booleana, um sistema que só admite duas possíbilidades. O preto no branco, o zero e o um, o sim e o não. A fé, confiança na honestidade humana é um estado igualmente booleano. A gente não pode acreditar na boa vontade, boa fé, das pessoas a um nível intermédio, digamos de 50%. A gente ou aborda uma relação humana dizendo sim, ou fugindo num não. Eu como, acredito, toda a gente também me debati com essa questão. Todos os dias me levanto com a vontade de dizer sim deitando-me com a forte impressão que o mundo grita não...

Rute Fernandes disse...

Pois...!
Resumo tudo a essa última frase.

E até às festas do Junho caro irmão.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
CurlyManu disse...

WTF!
Q comments spam são esses? e já agora o que raio se passa? :(

Anônimo disse...

vê se amanhã atendes aquela coisa que toca e vibra e saem de lá vozes. tem assim umas teclas com números. é aquela coisa que não costumas atender, tu sabes!

kiss

Rute Fernandes disse...

Divagações meus caros. Não se preocupem.

Já sabem que nesta carapaça não atravessa nada =)

Quando me visitam na maison nova???