terça-feira, março 18, 2014

Fictitiously

Acende um cigarro.
Trémula, desse nervoso miúdo que electriza quem sente no seu âmago o potente soco da injustiça.
Aspira freneticamente esse conteúdo que se havia comprometido a deixar no passado.
E subitamente a nitidez do que a cerca vai-se perdendo, vai-se toldando a visão.
Morde o lábio. Sente esse quente sabor a sangue na boca. Impele-se a impedir que todo o tumulto se concretize sob a forma de choro.
(...)
Impacientemente tira o telemóvel do bolso, corre a lista dos contactos à procura de alguém a quem possa recorrer. Nome por nome, vão-se sucedendo imagens de pessoas, histórias cruzadas, pontos comuns. Mas rapidamente se apercebe que aquela pessoa não compreenderá.
Nome por nome...
E a lista acaba. 
Retoma-a. 
Acaba novamente.
Ninguém.
E o vazio que a assola é tal que a respiração é suspensa, o olhar fica vazio. Lentamente deixa-se escorregar pelas paredes e enrola-se na mesma posição que manteve nessa vida fetal, longínqua e segura.

Na cabeça dela apenas a busca incessante por um motivo. Um motivo para continuar. Ou um motivo para parar de uma vez por todas.

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