terça-feira, agosto 26, 2014

Maternidade

Quando alguém pensa abraçar a obstetrícia, pensa-o sobretudo sob o prisma da criação. O fascínio pelo novo, pela magia que é ver-se perpetuada a vida.
As consultas de interrupção voluntária da gravidez, sendo uma realidade da especialidade, não são certamente a força motriz para optar pela área.
Se já por si custa, viver em parte o drama de alguém que tem de optar por essa decisão extrema (não sou ninguém para fazer qualquer tipo de juízo de valor acerca de realidades que desconheço). Mais custou ver-te a ti. Sozinha, com 21 anos. Uma insegurança e medo que transpareciam em todos os teus passos e gestos.
Mais custou saber os contornos da história. Ver como alguém tem de decidir algo tão sério sozinho. Sem ninguém que ampare. Com a acrescida vergonha de ter sido  vítima de um abuso, que sendo em parte consentido, não deixa de ser abuso e um acto verdadeiramente criminoso.
Saber que é uma realidade que acontece todos os dias, dá-me profundas náuseas. Entristece-me ver a frequência e facilidade com que o ser humano tira partido de condições de inferioridade para praticar os mais doentios actos. Abandonando posteriormente a vítima, com as sequelas do ocorrido.
Aprende-se muito nos consultórios.

Este verão tenho-me fartado de aprender.

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