sábado, outubro 21, 2017

Quase quase


Sempre trouxe um sabor amargo: quase! O cansaço que transporta a percepção de ainda não ter alcançado.
Ouvir "quase" quando já esgotamos toda a energia é de um desalento desumano. Mas é isso mesmo... "quase" e o mesmo repito dezenas de vezes por dia... todos os dias um pouco mais.
Ao longo dos últimos meses fui reconquistando  o meu lugar, voltando ao sítio de onde não deveria nunca ter sido obrigada a partir em primeira instância. Hoje parece que na mão tenho apenas o nada... mas não... ela está "quase" repleta... no horizonte próximo tenho um mundo novo e nele tenho-me a mim novamente.
Quase! Agora continuemos para concretizar o pouco que subsiste e tem de ser conquistado.

Obrigada! A todos os que desde o projecto desta aventura estiveram comigo.
Obrigada também a quem de uma ou outra forma me permitiu aprender.

sábado, maio 13, 2017

Enquanto houver vida

Está-me impregnada: esta melancolia acompanha-me desde que tenho memória. 
É quase como um traço da personalidade. Reflecte a parte menos feliz da sensibilidade. Mas curiosamente, esta parte faz-me ainda mais feliz.
Não entendamos sensibilidade como sinónimo de choro fácil, não é a isso que me refiro (apesar de também o ter), entendamos sensibilidade como aquela atenção ao detalhe, a leitura da mensagem muito para além do que é dito. 
No fundo é como se de um amplificador se tratasse e como consegue destacar pormenores de beleza intraduzível, também potencia as emoções a um expoente que as torna algumas vezes de uma intensidade dolorosa.
Mas sou assim, e sei que assim serei enquanto houver vida. Não consigo imaginar uma vida de outra forma sequer.
O que interessa é que a amostra seja positiva, para desta forma amplificar experiências igualmente boas.
Já que não posso alterar este detalhe, cabe-me a mim tentar encontrar a melhor realidade para o exercitar. E está quase. Só mais umas semanas.
:)

quinta-feira, abril 20, 2017

Ecstasy of Gold

No último dos momentos. Quando parecemos querer deixar o corpo sucumbir. Desistir. Quando parece que as forças escasseiam. Vocês vêm, tomam-me a mão, voltam-me o olhar para o lado luminoso da mesma realidade que momentos antes se apresentou sombria.
Os meus são os melhores.
Tenho os melhores amigos do mundo. Não por serem piegas, por estarem comigo de forma física e constante. Mas porque o são verdadeiramente. Porque sei que os tenho aqui bem perto a amparar cada passo mais tremido. E porque posso pensar que não estão atentos e nem se apercebem, mas como por magia em todos os momentos mais exigentes eles (quase sempre os mesmos) surgiram do nada, tomaram-me as dores, vestiram-nas como suas e juntos fomos sempre maiores.
Obrigada!

quarta-feira, março 29, 2017

Tanto de nada


Com uma mão cheia de nada. Foi assim que sai hoje.
O que faltava em soluções, sobrava em vozes que gritavam dúvidas aos meus ouvidos.
A sensação de encruzilhada. De falta de perspectiva. A lenta e sofrida perda de esperança.
Não conhecemos as lutas de quem nos rodeia. Não podemos ser julgados por isso. Podemos no entanto estar atentos aos pequenos pedidos de auxílio.
Nem todos dramatizamos. Nem todos iremos expressar as nossas dores e dificuldades do mesmo modo. Mas nunca devemos desvalorizar.
Hoje foi comigo. Mas que possa ser convertido numa lição. Em algo benéfico para o futuro. Que nunca me seja permitido esquecer como fere a sensação de descredibilização. Se foi grave o suficiente para levar a uma manifestação verbal... então deve ser encarado como grave o suficiente para carecer de uma consideração.
O doente muitas vezes mais não precisa do que a (embora fictícia, por vezes...) sensação de ser compreendido. 

terça-feira, março 28, 2017

Interna



Em pleno desenrolar dos acontecimentos é difícil ter a clareza de espírito necessária para que nos possamos pronunciar devidamente.
Esperava que fosse desafiante. Não defraudou. No entanto as expectativas eram relativas a uma realidade algo diferente.
A cada dia se vai somando um novo desafio. Mais algumas dificuldades. Muitas lições. Não podia no entanto ser maior a clarividência do tanto que ainda não sei, da imensidão de coisas que há para aprender.
Foi por este desafio contínuo que batalhei largos anos.
Muitas são as minhas limitações. E de mais limitações, vou ganhando consciência a cada dia.
No entanto, como a minha grande mentora me disse outrora "os meus únicos juízes são os meus alunos (ainda não me posso pronunciar muito neste âmbito...) e os meus doentes". Tento ter esta máxima presente comigo, mais ainda, tento que ela não me abandone quando sinto o peso de atitudes menos justas ou simpáticas, de pessoas que há muito se esqueceram da força que as palavras erradas em momentos determinados podem ter de forma irreversível na vida de outrem.
Nunca sabemos as lutas que quem nos rodeia atravessam. Se isto é válido para os doentes, internados, a quem tentamos dedicar o nosso melhor, é-o igualmente para o nosso par.
Espero nunca deixar que a insensibilidade tome conta de mim. Porque isso seria perder por completo a lógica do que me levou a iniciar esta viagem.
E mais uma vez me deito com a esperança que amanhã seja um dia ainda melhor. Especialmente amanhã, em que mais uma vez irei oscilar entre as posições opostas, de médica a doente em menos de nada. E que surjam algumas resoluções.


domingo, fevereiro 12, 2017

Sim

Simples assim. Como só as coisas boas sabem ser.
Porque afinal 2017 também me reserva coisas boas!




quarta-feira, janeiro 25, 2017

Argumento de uma irónica vida

Os melhores guionistas teriam dificuldade em conseguir captar e transmitir de forma credível as ironias e coincidências que acontecem diária e constantemente na vida de cada um de nós.
Quantas vezes damos por nós a reproduzir a célebre frase "isto contado, ninguém acredita"... Quantas vezes, ao pensar que algo já é surreal, é adicionado algo ainda mais inimaginável.
Quando se tratam de coincidências felizes, aceitámos. Assumimos que é mágico: no caso das relações humanas, achámos mesmo que é o "destino". Pior é quando as coincidências e sucessão de acontecimentos que nos vão acontecendo são desafortunados. Aí dividimo-nos entre reacções de cólera, revolta, ou como se vai vendo aqui e além, convicções  de se tratar de energias superiores "maus olhados"... you name it!

Somos um bicho muito estranho.

Esta mania de racionalizar tudo,ou melhor, de tentar justificar tudo (que muitas das justificações de racional, têm pouco) vai-nos lentamente levando para um cansaço, desgaste e destruição inevitáveis.
Por ora, e face aos acontecimentos que se têm vindo a suceder ao longo dos últimos meses, tento somente manter toda a tranquilidade que esteja ao meu alcance.
A convicção de que tudo acabará por correr bem, tenho-a comigo.
Se traz mudanças face ao que porventura poderia ter perspectivado para o meu curto/médio prazo? Sem dúvida.
Mas isto só me relembra como é arriscado projectar. Como devemos ser cautelosos em imaginar que teremos esse tempo, que ninguém em boa verdade nos garantiu.
Se os planos que eventualmente tinha em mente não forem coincidentes com a realidade que se avizinha, existe apenas um responsável: eu. Por ter criado expectativas. Por ter "falhado" na leitura do que seria... e novamente... ao dizer que falhei, estou a incorrer na mesma falha: assumir que já sei o desfecho e que ele será forçosamente diferente do que eu inicialmente vislumbrei. Mas quem sabe? Ninguém sabe o que reserva essa entidade que existe unicamente no nosso imaginário. Não sei o que cabe nesse futuro. Mas acredito nele. E tudo farei para que seja a minha perspectiva mais feliz. Mesmo com o risco associado.

Venha o 6 de Março. Sem ansiedade, nem conjecturas. Venha com o que tiver para mim.
Cá estarei.