Há muito que não tinha a oportunidade de me misturar, de desaparecer por entre o breu que extingue os meus contornos e me toma na noite, sinto-me desaparecer, como se subitamente me esfumasse e deixasse de ser alcançável aos olhos desses que comigo se cruzam.
Ao vê-los, ao sentir a brisa que os seus movimentos provocam, também me é trazida a duvida, a vontade de ler em cada rosto a alma de cada indivíduo. Perceber o que os faz andar tão rápido, o que os move, serão felizes?
E tudo parece tão despropositado, repentinamente deixa de fazer sentido ver os sacrifícios que as pessoas fazem para serem aceites, por serem mais uma gota neste imenso mar que vai traçando a história de uma espécie, que prima pela organização, pela hierarquia e que lentamente vai relegando para segundo plano a mágica e tempestiva ordem dos sentimentos, fazendo de nós seres totalmente deslocados da natureza.
Progresso, conhecimento, ordem… valores que imperam, que estão acima de muitos outros, à custa de outros valores, de outras coisas, inclusive da felicidade…
Nunca o conforto disponível foi tanto, mas também nunca foi tão frequente e intensa a tristeza nos olhos desses rostos, que deambulando cruzam com os meus por breves instantes, nesta noite em que o breu me transformou num invisível vulto que a ela pertence.
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