terça-feira, setembro 05, 2006

À pessoa dos olhos de medo





Ping, ping... inúmeros pings se seguem e a minha janela é beijada por essa límpida água que mais uma vez cai do céu... como é bom, como conforta a alma este doce cântico! Permaneço quieta, apenas me movo muito depois, para me aconchegar nos lençois... na minha cabeça voltam lentamente as imagens de todos os acontecimentos de mais um dia passado! Sinto ainda o medo, os mil olhos a seguirem-me, ouço ainda a censura das almas respectivas...mais uma vez me invade o sentimento, aquele que já experimentei tantas vezes, sinto-me fraca, deverei utilizar o feminino?
Já não sei quem sou, não sei... não tenho mais a segurança no que me levou a transformar o corpo e a ser mais coerente com o que sentia. Não sei, já não me sinto o homem que era, nem a mulher que queria ser. Pareço um estranho híbrido e "estranho" é mesmo o que os outros pensam quando me olham! Estranho é de facto o mínimo, já não é o olhar de estranheza da parte deles que me fere...não, porque “estranho” eu sempre fui… mas agora… não sou mais o homem estranho que era. Sou a "aberração", o atentado a Deus, sou o que todos recriminam, sou aquele ao lado de quem ninguém se senta, sou aquele que ouve as piores obscenidades, a quem batem apenas porque sim... esse… ou essa… sou EU!
E o meu maior sonho torna-se um inferno vivo... quando o que mais desejava era ser mais fiel aos sentimentos, e tornar-me mulher, uma vez que foi assim que já nasci... quando decidi tomar a "atitude" assinei o meu próprio atestado de óbito.
Hoje nada mais sou que um espectro....

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